segunda-feira, 12 de março de 2012

O menino que não queria ser rei




- Então, senhor Merlin, basta apenas eu retirar aquela espada ali da pedra que eu serei rei? Como pode ser isso?

- Ora, rapaz, está escrito aqui nesta placa “Aquele que retirar essa espada da pedra será, por direito, rei da Inglaterra”. Simples não?

- Mas só porque está escrito quer dizer que é verdade, seu Merlin?

- Neste caso sim, jovem.

- Mas muitos outros já tentaram e nenhum conseguiu. Lorde Malcolm até deu um mau jeito nas costas ao tentar fazer isso. Agora ele sente dores no joelho toda vez que o Manchester Uniteds Tribes perde uma partida de courobol para o Newcastle Knights. E se ser rei é tão bom assim porque o senhor mesmo não retira a espada, hein?

- Não posso, rapaz.

- Porque não?

- PORQUE FUI EU QUE A COLOQUEI LÁ, TÁ BOM?

- E como fez isso?

- Fiz isso usando meus misteriosos poderes místicos...

- Hmmm... E de onde foi que vieram esses seus poderes, hein?

- Eles... Me foram misteriosamente concedidos por entidades... Misteriosas... Que...

- O senhor não sabe não, né? 

- NÃO IMPORTA! Agora tire logo a espada de lá! É o seu destino fazer isso.

- Destino, seu Merlin? Um garoto tornar-se rei de uma forma totalmente irracional e absurda? Isto está mais pra desatino, isso sim.  

- Não importa o que você acha, jovem Arthur. Este é o seu destino e ponto final. E o meu destino é fazer com que você consiga realizar o seu. As pessoas precisam de líderes, ora.

- E porque as pessoas precisam disso?

- Ora, meu caro rapaz, elas precisam deles para que alguém lhes diga o que fazer, e leve a culpa no lugar delas quando fazem algo errado.

- Hmmm... Eu vou poder mandar nas pessoas, seu Merlin?

- Mandar não, rapaz, reinar. Significa que você deverá usar seu bom senso para fazer todo o possível para que seus súditos tenham uma boa vida.

- Parece bom.

- E você também deve organizar nossas defesas contra ataques de povos bárbaros.

- Sério? E o que estes povos têm de tão selvagem assim?

- ELES NÃO FALAM INGLÊS, ARTHUR!

- Aaghhh! Bárbaros! Mas... Mas não tem um jeito melhor de escolher um líder, como... Colocar no poder aquele que for mais inteligente?

- Não daria certo, já que alguém mais forte o tiraria de lá facilmente.

- Então porque não colocar o mais forte no poder, senhor?

- Também não daria certo, já que o mais forte não seria necessariamente o mais inteligente.

- Então... Poderíamos... Realizar uma escolha entre o povo...

- Ahhhh... Democracia? Até poderia dar certo, Arthur, mas o caso é que temos de nos virar com aquilo que temos. E o que temos no momento são uma espada, uma pedra, um povo alquebrado e um menino deveras teimoso...

- Ainda não me convenci, senhor Merlin. E se eu não for um bom rei?

- Mas você será. Não há o que temer, rapaz. É claro que terá alguns probleminhas normais como guerras, parentes petulantes, buscas épicas por artefatos míticos... Coisa pouca...

- Nossa. Eu terei uma vida complicada, não?

- Bem vindo à guilda. E você se sairá bem. Terá uma vida longa e plena de realizações.

- Se o senhor diz. Eu sempre quis viver até os trinta e oito, quarenta anos. Mas pelo menos eu terei uma esposa fiel e parentes leais a mim, não, seu Merlin?

- Bem... Quer dizer... De um modo... Olhe aqui, Arthur, sabia que um rei pode criar leis divertidas, como... Hmmm... Mandar ser arremessada de catapulta no mar toda pessoa que ele não goste?
   
- Boa ideia essa lei. Sabe, meu irmão Kay é tão chato que nem a luz do Sol bate nele. Eu poderei mesmo criar leis assim?

- Sim.

- E como eu faço isso, senhor Merlin?

- Retire a espada que eu lhe conto...

34 comentários:

  1. Rsrsrsrs uma recriação muito boa. Essa eu acho que é a realidade dos nossos governantes... Arrancaram a espada da pedra sem saber porque. E agora brincam de inventar leis e uma maneira de aumentar os salários deles.
    Adorei Flavio sua história. e é fato que os reis eram meio birutas, vai ver que os conselheiros eram tal como o Merlin.
    Beijokas doces.
    A joicy é doida? Não sabia, eu a acho tãoooooo equilibrada (deve ser pq sou farinha do mesmo saco kkkkkkkkkkkkkkkkkk)

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  2. Oi Jacques
    Gostei do seu texto sobre o rei Artur, aliás é uma história que eu gosto muito, um rei que eu gosto muito. Assisto a todos os filmes sobre essa história. Parabéns.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com

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  3. Se lhe contassem tudo, deixaria a espada por lá. Os que buscam o poder e o conseguem com facilidade, pensam que receberam um presente para satisfazer todos os seus desejos (só os seus). E aí, o mundo vira esse mundo de loucuras com as quais temos que conviver.
    Excelente, meu amigo! Bjs.

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  4. Simplesmente fantástico e divertido. Gostei da recriação, quem deveria estar no poder? Quando começa a ficar do interesse de Arthur, ele aceita. Humanos são assim.
    Abraços

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  5. Sei não, ele não queria ser rei, mas o Senhor Merlim o convenceu e acabou aceitando; porque então viu que ia ter poderes; somos "tolos e ainda acreditamos, vamos lá *votar! Ah, que sensação de vazio, estamos sem "líderes...
    Eles, os nossos governantes não têm idealismo.
    Não aceito que nos enganem tanto, que nos roubem! precisamos que pensem na Nação, no povo...
    Leis? Só criam aquelas que convém a eles.
    Amo ler teus textos; Bjus / Mery*

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  6. Muito legal esta reformulação e tem muito a ver com a nossa realidade.
    De início o menino questinou muito (o que adoro em seus textos, os questionamentos), porém, bastou um impulso para o abuso de poder que ele topou na hora.
    Eu nem mencionarei política e sim, humanidade.
    Humanos são assim.

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  7. Oi Jacques!
    Mais uma vez eu venho aqui e fico feliz com o que leio. Gosto da sua maneira de escrever porque nos leva a várias possibilidades de interpretações e isso é o que prende o leitor no texto.
    Arthur é mostrado como um menino muito curioso e esperto. Na verdade, ele não buscava a responsabilidade de ser um rei, ele queria mesmo os benefícios que o reinado traria a ele.
    Muito inteligente, Jacques!

    Beijocas!

    Ismália .

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  8. Oi Jac,

    Adorei o texto! Penso na analogia com o nosso ambiente político, mas qualquer um agiria nessa linha. Penso que faz parte da vida o querer para si e pensar em resolver primeiro os seus problemas. Enfim, a máxima, primeiro eu, segundo eu, terceiro eu é o ópio humano.

    Beijos.

    Lu

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  9. Jacques,
    a sedução do poder na visão Jacques de escrever!
    Inteligente, ironia, o discutir consigo mesmo e transformar isso em diálogos sábios e surpreendentes..., cada vez melhor, amigo.

    Muito obrigada pelo comentário também lá no post sobre a Celeste uruguaia.
    Beijão e ótimos dias, senhor inteligentão!

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  10. Jacques, a maneira como consegue criar situações para suas publicações é de uma inteligência admirável. É muito bom poder conferir suas publicações, meu caro. Um grande abraço.

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  11. hahaha,gostei mais é do merlim não fazer ideia de como colocou a espada lá..Comecei lendo como algo fiel á história, mas a partir daí foi pro escambau todo o clima.Acho que foi uma sacada de gênio.Assim como por que as pessoas precisam de líderes...e porque os bárbaros são bárbaros..e...ah! o texto todo,enfim ^^

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  12. Olá Jacques.

    Muito bom. Alguém teria que dizer a verdade sobre aquele reino encantado.
    Parece que continua a mesma coisa nos dias atuais, no mundo todo.
    Hummm!
    Vamos ficar de olhos abertos.
    O problema é que há sempre uma magia para entorpecer os olhos.
    Parece brincadeira o que acontece, mas você interpreta muito bem essas irônicas verdades, Jacques.
    Parabéns pelo deslumbrante texto.

    Um abraço.

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  13. Muito bom Jacques.

    O final foi genial!

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  14. Fala Jacques!

    Mais um conto posto a apreciação, meus parabéns!

    Fazendo jus a sua característica, este é repleto de questionamentos, porém em um cenário diferente ao da Grécia e seus mitos. Gostei de novo!

    A propósito, obrigado pela dica! Visitei o site que me informou, realmente muito rico em conteúdo.

    Até mais...

    Grande abraço!

    Anselmo

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  15. Jacques,
    vim te agradecer por todos os comentários lá no Humoremconto.
    Estive lendo todos. Muito obrigada pela atenção e inteligência!
    Abração, amigo!

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  16. Muito bom Jacques, parece com nossa política atual, pois pegaram a espada e agora????? Atiram o povo com uma catapulta no mar do caos!
    Vou adicionar seu blog a minha lista de preferencias no blog CHH.
    Obrigado por compartilhar seu conhecimento.
    Valeu amigo,
    Leandro CHH

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    1. Muito bom seu texto. Muito significativo... Mostra exatamente como um jovem contestador, crítico, pode ser corrompido pelo poder. Acredito, aliás, que o poder é um grande perigo, pois quase sempre corrompe os homens.

      E corrompe retirando tudo que há de bom nos indivíduos. A capacidade crítica, a sensatez, a ética... Lamentável, mas é bem o que ocorre me nossa sociedade, não?

      Obrigada por passar lá no blog e abraços!

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    2. Muito bom seu texto. Muito significativo... Mostra exatamente como um jovem contestador, crítico, pode ser corrompido pelo poder. Acredito, aliás, que o poder é um grande perigo, pois quase sempre corrompe os homens.

      E corrompe retirando tudo que há de bom nos indivíduos. A capacidade crítica, a sensatez, a ética... Lamentável, mas é bem o que ocorre me nossa sociedade, não?

      Obrigada por passar lá no blog e abraços!

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  17. Nada como uma boa lábia, Jacques... Merlin ganhou o garoto no papo. Mal sabe ele que... bom, não serei eu quem colocarei sal nesse doce. rsrsrs

    Fiquei pensando aqui nas tantas vezes que recebemos responsabilidades que inicialmente não são nossas, ou não desejamos, né? Sei lá, mas em minha adolescência, até o início de minha juventude, em casa, sentia que carregava o mundo nas costas, sabe? Desde muito cedo. Vivia uma vida totalmente voltada para os outros. Tendo que refletir pelos outros... que agir pelos outros. Se eu contasse metade, vc ficaria de cabelos em pé. Até que chegou um dia em que a Joicynha disse "chegaaa", deixe-me ser um cadinho irresponsável! No que deu? Joicy nunca mais pisou numa igreja, começou a trabalhar no que ela gostava, se tornou independente de tudo e de todos e, algum tempo depois se casou com quem ela desejava(e não com quem desejavam para ela) e vive sendo feliz do jeito que ela acredita ser o certo(essa é minha felicidade.). Mas, confesso, continuo sendo uma pessoa responsável. Mesmo vivendo dentro dos padrões que não são os que muitos esperavam de mim(ei, sou gente boa, pô!rs)... o que poderia me importar se tenho uma das pessoas que mais amo me vendo como a mesma Joicy de antes, independente da forma de pensar?? Me refiro à minha mãe. Claro, com a diferença que, até hj, alguns ainda acham que sou a ovelha negra da família. Mas, fazer o que, né? A vida é assim... não se pode agradar à todos. Pq estou falando sobre isso? Bom, algumas pessoas queriam que eu retirasse a espada que estava cravada e governasse ao modo deles. Mas com Joicynha não rolou!

    Claro, não levei seu texto para a questão do poder e outras questões mais que ele daria margem à compreensão... afinal, se eu engatasse na prosa, o texto não caberia aqui. Mas, antes que qualquer coisa quero me desculpar se dei uma viajada leessssgal com meu comentariããooo! rs... Sacomé, né? Eu exagero, às vezes!

    Enfim, gostei demais... como sempre, vc arrasa nas analogias!

    bjks

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  18. Oi Jacques!

    Maravilhoso como sempre suas postagem.
    Sua criatividade e os detalhes sempre me impreciona.
    Um diálogos cheio de sabedoria.
    Beijos grande meu amigo.

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  19. Jacque...sempre criativo, ironico na medida, inteligente e com
    uma bela mensagem nas entrelinhas.

    Este é o jeito Jacques de escrever....

    Parabéns!!

    bjs

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  20. Oi, amigo Jacques!
    Sua recriação dos mitos é muito inteligente e divertida.
    Gosto muito dos protagonistas porque questionam tudo que os demais aceitam. Apesar de Arthur ser inexperiente, é sábio.
    Os critérios para escolher o líder são injustificáveis, realmente.
    Aqui, no Brasil,o "chefe" é um mais "esperto".

    Parabéns talento!

    Abraços!

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  21. "o mito é o nada que é tudo"
    acho particularmente sedutora a forma como escreves, já que desmonta o tudo dos nadas reinstaurando a relatividade em todas as coisas. os intertextos são soberbos e a ironia, confirma-se, é a pior inimiga dos absolutos.

    um fã incondicional este jorge aqui.

    abraço, jacques!

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  22. Jacques,
    Vim agradecer seu comentário fofo. E checar pra ver ser o Arthurzinho já tinha aceitado ser rei... ainda não!
    Beijokas doces

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  23. Oi Jacques! Excelente. O problema de muitos líderes e não serem líderes nem de si. Ótimo domingo! Meu abraço.

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  24. Muito divertida. E apesar do conto parecer grande (para os padrões da internet - Estamos falando de pessoas que não leem muito), ficou bem legal. Ah, você já assistiu Merlin, a série da BBC? É legal. Quer dizer, é a lenda sendo recontada.
    Blog "Emilie Escreve"

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  25. Oi, Jacques! Obrigada pelo carinho lá no meu blog.
    Te sigo aqui! Beijos

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  26. Ser líder é uma tarefa difícil,pois um líder não se faz sozinho, e nem mesmo sera lembrado se foi egoísta em sua liderança.Gostei do seu cantinho,muito inteligente.Abraço de leitor e fã.:-BYJOTAN.

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  27. Gostei muito! Muito inteligente da tua parte utilizar um texto mítico inglês para nos levar a pensar sobre liderança e formas de poder. Não há pensamento enveredado por condutas irracionais que não se desmontem com simples questionamentos, inda assim, o fator humano, a busca por prazer momentâneo,muitas vezes se eleva ao conceitos que um pensamento crítico poderia nos oferecer. Uma lástima. Mas, coisas de humanos. salpage.blogspot.com

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  28. No fim das contas, Arthur realmente é o melhor rei que poderiam encontrar. Pois só alguém digno teria a perspicácia pra fazer tantos questionamentos pertinentes.
    Da mesma forma que na sua época ele não quis ser rei, hoje em dia as pessoas com essa perspicácia não se envolvem com o governo do reino-- quer dizer, do país...
    Minha vontade era ter lido só pra ter diversão garantida, mas não pude deixar de comentar.

    Abraço!

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  29. OLá
    Jacques
    Complicado ser normal imagine lidera um país como rei. gostei da sua narrativa. muito bem elaborada. um abraço
    brisa

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  30. Olá Jacques
    Postagem divulgada no portal teia.

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  31. Não canso de dizer que gosto muito de suas analogias. E ver que as pessoas mais contestadoras e inteligentes são as que não se sentem capazes ou simplesmente não querem o poder de serem "reis". E, infelizmente, notar que assim como no texto, muitas pessoas realmente idealistas e que poderiam melhorar as coisas no "reino", corrompem-se quando tem o poder em mãos.
    Abraços

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